domingo, novembro 22, 2009

os teus pés vesgos




entrou na porta de costas

descalço, com os pés vesgos

descia carregando medos,

as escadas suspensas em redes.

com visão lenta petrificava o espaço

e, das vidraças retratavam as sombras

do lado de lá, da porta ao lado.

encontrou o anoitecer sem horas,

velas ardiam pela casa,

como astros em campo nu

a claridade existia dentro do tempo.

passeou a memória,

sem excessos

recordou como se movia o mar

e com os dois pés esquerdos

caminhou sobre cal caída das paredes

sujas de palavras.


de dentro sangrava

o fascínio de saber sonhar.




helena maltez






8 comentários:

bonecadetrapos disse...

Gostei. Gostei muitíssimo. Nunca tinha imaginado "pés vesgos". muito menos aqueles que "encontrou(am) o anoitecer sem horas"...

e a esses me rendo. e daqui fico a pensar que, Jean-Paul Sartre, tão vesgo, qb., mas que sabemos de uma enorme lucidez, diria porventura, a respeito:
"És livre, escolhe, ou seja: inventa."
ou ainda
"Cada homem deve inventar o seu caminho."

ainda que o caminho
"de dentro sangrava(e)
o fascínio de saber sonhar."

Quanto importa, cara poeta: o sonho.

Saudações com estima
*__bonecadetrapos__*

Luis Eme disse...

gostei de teres entrado de novo...

e de partilhares os sonhos...

bjs Lena

Graça Pires disse...

Entrou. E "dentro sangrava
o fascínio de saber sonhar". Mas entrou, mesmo de costas para carregar o sonho...
Que belo poema. Ainda bem que voltaste.
Um beijo, Lena.

Elvira Carvalho disse...

Um dos mais bonitos poemas seus que já li.
descalço, com os pés vesgos
descia carregando medos,
as escadas suspensas em redes.

E não andamos todos um pouco assim?
Um abraço

amsch disse...

porquê sujas de palavras?

Vagabundo disse...

Chama-se a isto entrar com os dois Pés.

Saudações Vagabundas

Isis disse...

«com os pés vesgos descia carregando medos, as escadas suspensas em redes.»

...tá lindo o teu poema...

Mts parabéns mesmo!Continua!

Amaral disse...

O Natal é o sorriso de todos os dias.
É também o fascínio de saber sonhar!
Que seja também a alegria do teu caminhar, agora e sempre!
Festas Felizes, Helena!

rosto...

  rosto em silabas as artérias estão vazias dentro de mim. escuto gritos sucessivos e a sede é abandono em dias inúteis. o tempo é...